Kisunla promete retardar a progressão da doença ao agir sobre placas de beta-amiloide no cérebro.

O primeiro remédio aprovado no Brasil para tratar os sintomas iniciais da Doença de Alzheimer foi autorizado pela Anvisa na última terça-feira (22). A condição, que é neurodegenerativa, progressiva e fatal, compromete gradualmente a memória, as funções cognitivas e as habilidades motoras. O novo medicamento, chamado Kisunla (donanemabe), produzido pela farmacêutica Eli Lilly, foi desenvolvido especificamente para pacientes em estágios iniciais da doença.
De acordo com informações oficiais, o Alzheimer tem início quando há falhas no processamento de proteínas no sistema nervoso central. Isso gera fragmentos de proteínas mal formadas e tóxicas, que se acumulam dentro e entre os neurônios. Essa toxicidade leva à perda progressiva de células nervosas em áreas do cérebro como o hipocampo, fundamental para a memória, e o córtex cerebral, responsável por linguagem, raciocínio, reconhecimento sensorial e pensamento abstrato.
Nesse contexto, o Kisunla atua como um anticorpo monoclonal que se liga às placas da proteína beta-amiloide — principal substância envolvida na doença — ajudando a reduzir seus depósitos e retardar o avanço dos sintomas.
No cenário nacional, a neurologista destaca um aumento de 22% nos diagnósticos da doença, número atribuído à maior cobertura de saúde pública oferecida pelo SUS. No entanto, os dados de mortalidade chamam ainda mais atenção.
Um estudo feito por pesquisadores da Unifesp e da Universidade Columbia (EUA) identificou mais de 211 mil mortes ligadas ao Alzheimer no Brasil entre 2000 e 2019, com base em informações do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Datasus.
O tratamento da doença pelo SUS é feito de forma integral e com abordagem multidisciplinar. Os medicamentos disponíveis buscam frear a progressão dos sintomas.
Para liberar o Kisunla, a Anvisa analisou um estudo clínico conduzido pela Eli Lilly em oito países, envolvendo 1.736 pacientes em estágio inicial. O protocolo incluiu doses de 700 mg do remédio a cada quatro semanas nas três primeiras aplicações, seguidas de doses de 1.400 mg a cada quatro semanas. Os resultados mostraram que os pacientes que usaram donanemabe tiveram uma evolução mais lenta da doença e maior estabilidade em comparação ao grupo placebo.
A Anvisa ressaltou que a segurança e eficácia do medicamento continuarão sendo monitoradas rigorosamente. Um plano de minimização de riscos também será implementado para garantir o uso seguro do remédio.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, cerca de 1,2 milhão de brasileiros viviam com Alzheimer, e aproximadamente 100 mil novos casos eram registrados anualmente até então.